quarta-feira, 17 de junho de 2009

As Drogas // Psilocibina: o Sangue Azul dos Cogumelos


Por trás dos famosos cogumelos mágicos, tema recorrente sobre as tais viagens sem volta, existe uma intensa substância impregnada por uma rica história ancestral. Muito antes das psicodélicas histórias de Alice, onde uma simples mordida em um cogumelo era capaz de expandi-la a tamanhos imensuráveis, a psilocibina representava a divindade capaz de expandir não as medidas, mas a consciência através de realidades sagradas.

A psilocibina (O-fosforil-4-hidróxi-N,N-dimetiltriptamina) – alcalóide pertencente à família das triptaminas – é um poderoso composto psicodélico encontrado naturalmente em uma diversidade de espécies de cogumelo dos gêneros Psilocybe (ao qual pertence o antigo gênero Stropharia), Conocybe e Panaeolus (Copelandia), das quais o Psilocybe cubensis e o Psilocybe mexicana são as mais conhecidas. Estas espécies, muito distintos da imagem clichê do cogumelo vermelho com manchas brancas (Amanita muscaria, que será abordado no tema das drogas muscarina e escopolamina) são geralmente encontradas na América Central e México, mas podem também ser verificados em outras regiões do globo, principalmente nas localizações equatoriais e tropicais, visto que algumas espécies possuem comportamento cosmopolita.


O químico foi descoberto em 1953 por Gordon Wasson, um autor e pesquisador russo que desenvolveu uma série de contribuições para os campos da botânica e antropologia. A psilocibina é um psicodélico relativamente novo, em termos científicos, visto que a sua entrada nos laboratórios foi posterior à descoberta de outras substâncias como a mescalina, 60 anos antes, e do LSD, anterior em uma década. Cinco anos após a identificação por Wasson, Albert Hoffman, o famoso químico descobridor do LSD, foi o primeiro cientista a isolar o princípio ativo e a descrever sua estrutura molecular: o alcalóide de coloração azulada, na verdade eram dois deles e extremamente similares, foram batizados de Psilocibina e Psilocina, em alusão ao gênero Psilocybe: palavra de origem grega que significa cabeça (cybe) pelada (psilos). Os resultados, obtidos por Hoffman em colaboração com dois colegas (A. Brack e Dr. H. Kobel) e um professor (Roger Heim), foram publicados, em março de 1958, em nota no jornal científico Experientia. Os mecanismos de ação, em fato, devem-se a um princípio único, visto que a psilocibina converte-se em psilocina dentro do próprio corpo através de um processo chamado desfoforilação, mas os dois compostos são naturalmente encontrados nos cogumelos, sendo o primeiro deles verificado em maior porcentagem.

Posteriormente, em parceria com outros quatro colegas (A. J. Frey, H. Ott, T. Petrzilka e F. Troxler), Hoffman descobriu a síntese da psilocibina, cuja fórmula foi patenteada em 1963. Os resultados da pesquisa foram publicados em dezembro de 1958, também no jornal Experientia. A substância foi identificada como similar a outros químicos com o LSD, cujos intensos efeitos psíquicos denunciavam a urgência de novas frentes de pesquisa. A psilocibina entrou, decisivamente, para a família daqueles estranhos e misteriosos alcalóides que vinham desafiando a percepção sobre a natureza da mente humana. A partir da descoberta da sintetização, os laboratórios Sandoz, para o qual Hoffman trabalhava, passaram a disponibilizar a substância, assim como o LSD e outros psicodélicos, para as novas frentes de pesquisa que se disseminavam no início dos anos 60, principalmente norteados pelas vanguardas investigativas da Psiquiatria e Neurologia.

Em 1959, a psilocibina já se tornava a protagonista de uma série de estudos científicos, principalmente relativos à prática psicoterápica auxiliada por psicodélicos. Uma pesquisa francesa, liderada pelo médico Jean Delay, intitulada Les Effets Psychiques de la Psilocybine et les Perspectives Thérapeutiques (Os Efeitos Psíquicos da Psilocibina e as Perspectivas Terapêuticas), administrou a psilocibina em 13 pacientes saudáveis e em 30 pacientes diagnosticados com desordens mentais e concluiu que a substância, menos alucinógena que a mescalina e menos intensa que o LSD, possuía um significativo potencial enquanto ferramenta terapêutica. No mesmo ano, Delay, pioneiro na pesquisa sistemática da psilocibina nos domínios psiquiátricos, deu continuidade à investigação, publicando o artigo Premiers Essais de la Psilocybine en Psychiatrie (Primeiros Ensaios da Psilocibina na Psiquiatria), onde conclui que a substância, enquanto auxiliar psiquiátrico, é capaz de provocar melhor acessibilidade aos conteúdos do paciente, assim como desencadear efeito psicolítico, ou seja, liberar estes conteúdos na forma de revivências (geralmente da infância), estímulos da memória afetiva e eventos traumáticos.



No mesmo ano, o psiquiatra alemão F. Gnirss desenvolveu uma pesquisa intitulada Untersuchungen mit Psilocybin, einem Phantastikum aus dem Mexikanischen Rauschpilz Psilocybe mexicana (Estudos com psilocibina, um psicodélico do cogumelo Psilocybe mexicana), através da qual, ao administrar o alcalóide em um grupo de 18 pacientes saudáveis, conclui que o químico é um psicotrópico de teorética significativa e possibilidade de utilização psicoterapêutica.

Em 1960, outra pesquisa francesa, desenvolvida pelo psiquiatra A. M. Quétin, resultou em conclusões similares ao administrar o fármaco em um grupo de 32 pacientes saudáveis e 68 pacientes diagnosticados com quadros psicóticos. No mesmo ano, o psiquiatra R. Volmat, também francês e que já vinha desenvolvendo pesquisas sobre a estética produzida por pacientes portadores de distúrbios mentais, investigou a prática artística influenciada pela adição da psilocibina em 21 pintores amadores e profissionais. As conclusões mostraram que os artistas experienciaram “revelações” e novas propostas estéticas, através das quais a substância permitia ao pintor o “reconhecimento de um mundo visionário e colorido”.

Ainda em 1960, os psicólogos americanos Timothy Leary e Richard Alpert encabeçaram um projeto na Universidade de Harvard sob o nome de Harvard Psilocybin Research, do qual fizeram parte também o ensaísta filosófico e autor de Portas da Percepção – Aldous Huxley, o Presidente da Associação Psiquiátrica Americana – John Spiegel, o superior de Leary em Harvard – David McClelland, o psicólogo e professor da Universidade da Calofórnia – Frank Barron e dois estudantes graduados que já haviam trabalhado em um projeto à cerca da mescalina. Durante o programa, que durou de 60 a 62, uma série de experimentos foi desenvolvida para investigar as implicações da psilocibina sobre a natureza dos distúrbios psicóticos, tratamento de desordens de personalidade e psicoterapia auxiliada pelo uso do químico.

O desenvolvimento do programa, no entanto, foi significativamente prejudicado pela desenvoltura um tanto quanto anti-acadêmica de Timothy Leary. Desde o início do programa geral de pesquisa psicodélica em Harvard, o Harvard Psychedelic Drug Research Program, inaugurado em 1960 por 35 professores, instrutores e estudantes graduados, o psicólogo foi, aos poucos, se desfazendo da característica científica para tornar-se, anos mais tarde, uma espécie de guru da cultura psicodélica que vinha motorizando os fluxos intensos da Contracultura. Leary, extremamente fascinado pelas experiências de consciência desencadeadas por tais alcalóides, abandonou gradativamente a figura do pesquisador para investir-se da figura quase mística de um profeta do alucinógeno, que inclusive advogou o uso de drogas psicodélicas entre uma variedade de alunos sem monitoramento laboratorial ou intuito de pesquisa.

Até o momento drástico em que os psicodélicos escaparam dos laboratórios e tornaram-se os protagonistas de uma batalha política e, em função da política norte-americana da Guerra às Drogas, foram terminantemente proibidos, inclusive no universo científico, a psilocibina foi o centro de diversas investigações. Até o final dos anos 60 e início dos 70, quando os Estados Unidos responderam violentamente aos questionamentos da Contracultura, movimento do qual fazia parte expressiva a utilização destas drogas, os principais estudos concentravam-se em traçar paralelos entre as três principais substâncias do grupo – LSD, mescalina e psilocibina – e em examinar a potencialidade psicoterapêutica e possível relação entre os estados alterados de consciência provocados pela adição destes alcalóides e os distúrbios mentais. Com a medida que pôs fim às pesquisas, e através da qual o governo norte-americano arbitrariamente revogou toda e qualquer qualidade científica dos psicodélicos, a psilocibina foi, assim como os demais, silenciada, apenas voltando aos laboratórios após quase trinta anos de moratória.

Assim como a mescalina, apesar de uma recente e conturbada história ocidental e de representar uma novidade científica, a psilocibina nos remonta a eras antiqüíssimas e possui uma complexa carga histórica. Os primeiros registros datam de meados do séc. XVI, quando os historiadores da Nova Espanha fizeram os primeiros relatos da utilização sacramental dos cogumelos entre as populações nativas da atual região mexicana. Na famosa obra Historia General de las Cosas de Nueva España, onde o frade franciscano Bernardino Sahagún também reporta a utilização do cacto peiote pelas comunidades aborígenes, encontramos algumas das primeiras referências ao consumo ritual do cogumelo, identificado pela cultura local como teonanácatl, palavra de origem asteca-náhuatl cujo significado é “Carne de Deus”. A obra, fruto das observações de Sahagún desde a sua chegada na Nova Espanha em 1529 e finalizada no final do século, possui diversas passagens através das quais os cogumelos, assim como o peiote, ganham notoriedade enquanto elementos culturais nativos:

“Existem alguns cogumelos que dão nesta terra e se chamam teonanáctl, crescem debaixo do mato, nos campos e pântanos, são redondos e possuem a haste delgada. Quando comidos, possuem um sabor ruim, arranham a garganta e embreagam. São medicinais contra as queimaduras e gota. Deve-se comer dois ou três e não mais, e os que comem vêem visões e sentem palpitações no coração.”



A ingestão destes fungos representava um sistema complexo e legítimo de culturas e crenças, onde as alterações provocadas significavam o intermédio entre realidades distintas, relação através da qual se faziam previsões futuras, advinhações e curas, e através da qual se podia comunicar-se com os deuses. Os rituais expressavam-se não como elementos hedonistas, mas como fatores importantíssimos para a manutenção das comunidades, inclusive para a mobilidade dos seus membros dentro das hierarquias propostas, onde o curandeiro, figura que pode ser identificada como o xamã, possuía o conhecimento mágico que deveria comunicar e ensinar aos demais, e que lhe era passado pela própria substância, no caso, o cogumelo.

Além de Sahagún, três outros importantes personagens da conquista espanhola, o frade franciscano Toribio de Benavente (conhecido como frei Motolinia, nome dado pelos astecas), o frade dominicano Diego Durán e o pároco Jacinto de la Serna, também publicaram obras onde é possível encontrar relatos da utilização ritual dos cogumelos psicodélicos pelas comunidades locais. Motolinia, na obra Historia de los Indios de la Nueva España, escrita durante o séc. XVI e apenas publicada em 1858, talvez seja o primeiro a apropriar-se do termo asteca teotl (deus supremo) para referir-se aos cogumelos, que viria posteriormente a associar-se ao termo nanácatl (carne). Durán, em sua obra Historia de las Indias de Nueva España e Islas de la Tierra Firme, escrita no final do séc. XVI e publicada somente em 1867, e la Serna, em Manual de Ministros de Indios para el Conocimiento de sus Idolatrías y Extirpación de Ellas, obra de meados do séc. XVII, reportam o consumo do fungo como uma espécie de ritual de transubstanciação cristã, porém em moldes indígenas.

Todas as crônicas da Nova Espanha onde os cogumelos figuravam como parte da cultura aborígene, no entanto, bebiam, e imprescindivelmente, de fontes cristãs. A utilização ritual dos fungos foi rapidamente satanizada pelos relatos destes primeiros historiadores, onde o consumo de cogumelos era identificado como um culto demoníaco, em que o estado de “embriaguez” era provocado pelas forças do mal, e em que as previsões, visões coloridas, adivinhações e revelações eram concebidas pelo próprio Diabo. Tal costume, identificado como Idolatria (do fungo, da bebida, da planta etc.), uma prática que deveria ser “curada” pelos missionários, foi intensamente combatida pelos conquistadores, que contavam, inclusive, com uma gama de manuais que ensinavam-lhes como extirpar este tipo de comportamento e de como julgar as práticas indígenas segundo as diretrizes da Santa Inquisição.

A inabilidade da Igreja Católica Apostólica Romana em lidar com a riqueza intrínseca da vasta e múltipla natureza religiosa humana não só aniquilou todas as formas de expressão cultural e ritualística envolvendo o consumo dos cogumelos portadores de psilocibina, assim como destruiu definitivamente as manifestações nativa da Nova Espanha. Civilizações foram dizimadas e hoje, restam apenas raras e mal conservadas amostras remanescentes, entre elas algumas ligadas ao consumo ritual do cacto peiote (Igreja Nativa Americana).

Mas apesar das investidas da Conquista Espanhola nas terras da América Central e México, algumas expressões artísticas permaneceram enquanto elementos históricos e nos fornecem dados importantes à cerca da história do consumo da psilocibina. Os primeiros registros arqueológicos que envolvem a utilização ritual dos cogumelos psicodélicos nos remetem há aproximadamente mil anos a.C. e encontram-se na região da América Central. Em 1898, o geógrafo alemão Carl Sapper descreveu pela primeira vez um grupo de esculturas em forma de cogumelo, que se julgou em princípio serem representações fálicas, encontradas em El Salvador, Guatemala. Estas estátuas, a maioria de aproximadamente 30cm de altura, possuíam um chapéu grosso e abaloado e ainda faces humanas e outras representações esculpidas nos talos e foram identificadas como manifestações remanescentes da cultura Maia.



Tal descoberta chamou a atenção do autor e pesquisador russo Gordon Wasson e de sua esposa Valentina Pavlovna Wasson, que já vinham pesquisando as implicações culturais relativas aos cogumelos na Rússia. Os Wasson percorreram alguns territórios do México e América Central em 1953 e sugeriram – de maneira bastante convincente – que tais estátuas eram registros arqueológicos de antigas práticas ligadas ao consumo e à adoração dos cogumelos da psilocibina. Tais monumentos foram também estudados pelo arqueólogo Stephan F. Borhegyi, que acompanhou o casal Wasson durante sua viagem e atribuiu os cogumelos de pedra ao séc. X a.C, mais precisamente entre o séc. XIII a.C. e o séc. VIII d.C.

Além das esculturas, outro fato importante ligado á cultura ritual dos cogumelos havia ocorrido na mesma região pela qual os Wasson iniciaram o seu curso de investigação na América Central, aproximadamente 15 anos antes. Em 1938, o antropólogo mexicano Robert J. Weitlaner e o botânico estadunidense Richard Evans Schultes, da Universidade de Harvard, encontraram práticas religiosas remanescentes que utilizavam cogumelos psicodélicos na cidade de Huautla de Jimenez, capital do território Mazatec, no Estado de Oaxaca. Neste mesmo ano, um grupo de antropólogos americanos pôde assistir, pela primeira vez, um ritual secreto do cogumelo, sob a liderança de Jean Bassett Johnson, que havia seguido as orientações e Witlaner. A experiência foi publicada no ano seguinte.

Quinze anos depois, os Wasson, talvez as mais importantes personalidades no que diz respeito ao conhecimento moderno sobre estes cogumelos, percorrerem diversas cidades e locais onde haviam indícios e registros da cultura ligada ao fungo e depararam-se com manifestações atuais provenientes da cultura asteca, entretanto já carregada pelo sincretismo religioso que substituía as figuras nativas por figuras cristãs. O casal, além das já citadas esculturas, ainda deparou-se com uma série de referências sagrados aos cogumelos nos afrescos de Teotihuacan, sítio arqueológico localizado a 40 km da Cidade do México, onde as figurações murais denotavam divindades portando cogumelos nas mãos, o ato do consumo e uma série de figuras que podem ser interpretadas como alusões ao fungo. Gordon e Valentina puderam reunir uma vasta documentação dedicada ao tema, além de recolher espécies, através das quais descobriram, enfim, a existência de uma substância ativa que provocava os estados alterados de consciência: a partir daí a psilocibina foi trazida aos laboratórios científicos, onde foi isolada, nomeada e sintetizada pela primeira vez.

De 1953 ao final dos anos 60 a substância foi o centro de diversas pesquisas, já citadas anteriormente, até cair no silêncio sufocante imposto pela política norte-americana da Guerra às Drogas. Aproximadamente após três décadas de um período marcado pela moratória científica arbitrariamente fixada, os psicodélicos iniciaram um expressivo movimento de retorno aos domínios científicos (ver matéria: O Renascimento da Pesquisa Psicodélica).

A partir deste momento e até os dias de hoje, a psilocibina tornou-se novamente o centro de diversos estudos. Em 2004, o psiquiatra norte-americano Charles Grob, da Universidade da Califórnia, desenvolveu uma pesquisa que investigou o químico enquanto fator terapêutico em pacientes com câncer em estado terminal em 12 pacientes. O estudo, que procurava a redução do estresse e dor, obteve resultados animadores no aumento da qualidade de vida dos pacientes e os dados revelaram um aspecto promissor na utilização clínica da substância.

Em 2006, o psiquiatra Francisco Moreno, da Universidade do Arizona, iniciou uma pesquisa sobre o uso terapêutico da substância em pacientes diagnosticados com distúrbio obsessivo-compulsivo que resistiram a outros tipos de tratamento, assim como para fins de teste de segurança do alcalóide no organismo. As conclusões reportaram que todos os pacientes, da amostra de 9, experienciaram melhorias nos quadros obsessivos compulsivos durante o período da experiência. Apesar uma pequena pesquisa, com uma amostra e um alcance não tão significativos, Moreno reportou seu ânimo diante da potencialidade da substância: “O que vimos foi uma drástica diminuição dos sintomas durante um período de tempo. As pessoas diziam que não se sentiam tão bem há anos”.



Em outro estudo, do mesmo ano, liderado pelo neurocientista americano Roland Griffiths, da Faculdade de Medicina da Faculdade Johns Hopkins, foram administradas doses de mescalina a 36 pacientes saudáveis a fim de se investigar os mecanismos da experiência psicodélica que afetam a percepção e cognição. Cerca de dois terços dos voluntários relatou haver vivenciado uma completa experiência mística, caracterizada por uma sensação de unidade com todo o universo. Quatorze meses após a administração das doses, Griffiths os entrevistou novamente: os pacientes ainda atribuíam à experiência altos níveis de satisfação transcendental e a associaram ao crescente bem-estar que sentiam desde então, inclusive relatado pelos familiares e pessoas próximas. “A maioria dos voluntários conseguia se lembrar de suas experiências 14 meses depois e as classificavam como uma das cinco experiências espirituais mais significativas já vividas, comparando-as com o nascimento de um filho ou a morte do pai ou da mãe. É fantástico passar por uma experiência assim tão marcante. Mais fantástico ainda é ela ainda ser significativa 14 meses depois. Experiências como essas são inesquecíveis”, afirma Griffiths.

Ainda em 2006, temos a pesquisa do psiquiatra norte-americano John Halpern, da Universidade de Harvard, que investigou os efeitos terapêuticos da psilocibina e do LSD em pacientes diagnosticados com uma enxaqueca intensa conhecida como enxaqueca em salvas. 22 dos 26 pacientes em que foi administrada psilocibina e 25 dos 48 em que foi administrado LSD reportaram diminuição dos ataques e alguns até mesmo a remissão por períodos extensos.

Em 2008, os médicos e pesquisadores Juan Sanchez-Ramos e Briony Catlow, da Universidade da Flórida do Sul, iniciaram uma pesquisa afim de investigar a possibilidade de a psilocibina auxiliar o processo de nascimento e desenvolvimento de novas células cerebrais (neurogênese) na área conhecida como hipocampo, responsável pela cognição e memória. O estudo, corrente, ainda não possui publicação.

As modernas frentes de pesquisa nos têm mostrado, com dados promissores, que os psicodélicos possuem uma potencialidade ainda pouco conhecida pelos cientistas e que jamais deveriam ter sido condenados a uma moratória durante longas décadas. Os novos estudos têm inspirado um honesto retorno de alcalóides como a psilocibina aos domínios da ciência e desmentindo a demoníaca imagem pintada pelas jogatinas políticas norte-americanas nos anos 60.


// EFEITOS E RISCOS:

De um modo geral, os efeitos decorrentes do consumo da psilocibina iniciam-se aproximadamente entre 30 a 60 minutos após a ingestão (cogumelos frescos, desidratados ou infusão), e de aproximadamente 15 minutos quando administrada por via intra-venal.

A dose ativa da substância é de aproximadamente 15mg e dura, geralmente, de 4 a 8 horas, tendo o seu pico aproximado cerca de 1 ou 2 horas após o consumo.

Os efeitos psíquicos, assim como para os demais psicodélicos, variam de acordo com o ambiente (condição externa) e o estado de espírito e personalidade (condição interna) do usuário e as experiências ruins e potencialmente danosas são mais freqüentemente observadas entre os usuários recreacionais (ilícitos). Os efeitos, apesar de menos intensos que os provocados pelos outros dois alcalóides expoentes do grupo – LSD e mescalina – são similares aos dos pertencentes à família dos psicodélicos: alterações na percepção visual que podem incluir visões caleidoscópicas e hiper-coloridas; sensibilização sensorial; experiências de despersonalização onde o indivíduo perde a identidade com seu próprio corpo e com os limites do próprio corpo; alteração da noção temporal e espacial; sensação de plenitude consciencial, de unicidade com o universo (cosmovisão); sensações tanto de paz suprema quanto de intenso terror que pode levar a quadros de pânico (má viagem, bad trip); taquipsiquismo (pensamento rápido); pensamento confuso e desordenado; perda do controle emocional etc.



Apesar de podermos delinear um certo universo de efeitos, a definição dos mesmos torna-se essencialmente dificultada devido a natureza subjetiva e idiossincrásica da experiência psicodélica.

Já os efeitos fisiológicos incluem alterações variáveis como o aumento da pressão sanguínea, taquicardia, midríase (dilatação da pupila) e atividades eméticas (vômito).

A psilocibina não é capaz de desenvolver relação de vício com o usuário e não possui toxicidade cerebral suficiente para acarretar problemas, distúrbios ou danos neurológicos. O grande problema encontrado no uso das substâncias psicodélicas não recai em seus mecanismos fisiológicos, mas sim nos efeitos imprevisíveis que esta adição pode causar no indivíduo psiquicamente (principalmente quando utilizada com fins recreativos).

Os cogumelos são conhecidos pelas famosas “viagens sem volta”, mas não há nada nestes fungos que os coloque em maior posição de risco frente a outros psicodélicos, como o LSD. As tais “viagens sem volta”, em fato, são baseadas em desencadeamentos de crises psicóticas severas e prolongadas em pessoas que já possuem histórico ou propensão genética a este tipo de comportamento, e sob a utilização de qualquer psicodélico.


// MECANISMO DE AÇÃO:

Os mecanismo de ação de substâncias como a psilocibina, assim com os de outros químicos deste grupo, apresentam, ainda hoje, uma série de lacunas preenchidas apenas por teorias. Os últimos estudos têm encontrado diversos indícios da natureza química interativa no cérebro humano.

Sabe-se que a psilocibina possui estrutura semelhante aos neurotransmissores cerebrais dopamina, noradrenalina e especialmente a serotonina. Em função de tal afinidade, a molécula liga-se aos mesmo locais (receptores) em que estas substâncias se conectam, onde passam a desenvolver a função de neurotransmissores, neste caso, de origem externa. Os neurocientistas acreditam que a ativação de determinados grupos destes receptores é o mecanismo responsável pelas alterações perceptivas e cognitivas produzidas pela adição destes químicos.


// STATUS POLÍTICO ATUAL:

A psilocibina e psilocina são consideradas drogas ilícitas pelas Nações Unidades, através da Convenção de Substâncias Psicotrópicas, de 1971. Incoerentemente elas pertencem às drogas da escala 1, a mais perigosa e escala da qual fazem parte substâncias cujo uso terapêutico ou medicinal é nulo. Esta convenção foi adotada pela maioria esmagadora dos países no globo, e não há qualquer federação onde a substância não seja ilegal.

A produção e cultivo dos cogumelos produtores de psilocibina, assim como a sintetização, produção, comercialização e consumo da psilocibina ou psilocina são proibidos sob pena de se fazer valer as medidas constitucionais cabíveis em cada federação.

Assim como para outros psicodélicos ilícitos, existe uma população que faz uso recreativo da psilocibina. A dificuldade de encontrar os cogumelos e da até então inexistência de laboratórios clandestinos capazes de sintetizar o alcalóide, tornam o uso recreativo desta substância dificultado.

5 comentários:

  1. André Ferraz da Costa11 de julho de 2009 às 08:20

    Cara, muito bom esse texto ! parabéns !

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  2. Texto bacana!
    Vc já consumiu teonanacatl?
    Para maiores informações: http://www.cogumelosmagicos.org/

    Paz e Luz!

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  3. Muito bons ambos os textos mano!
    Seria interessante um texto a respeito da ayuhasca
    positividade de jah!

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