quarta-feira, 13 de maio de 2009

O Projeto // Objetivos do UltrAlice





1. O Design Gráfico como Linguagem:


Contestar o Design enquanto mera ferramenta de sedução mercadológica formadora e estimulante dos desejos de consumo e satisfação material humanos, baseando-se na rica potência gráfica de comunicar idéias e informações capazes de excitar discussões, debates, mudanças de comportamento e atitudes sociais, políticas e culturais. É fato que o Design Gráfico, hoje, tem muito do seu escopo definido pela fortificação das intenções de consumo para quaisquer produtos injetados no mercado, e aqui pode residir uma maquiavélica face desta realidade: a manipulação do comportamento humano na intenção de adaptá-lo aos constantes fluxos comerciais. Este seria um dos aspectos do Design enquanto comunicador. Para que haja esta passagem, esta "conversa", temos também, como elemento íntimo deste universo, o objetivo de transformar, nas linguagens visuais, as mensagens latentes em linguagens mais universais, mais ou menos compreendidas de acordo com os públicos a que estas mensagens são destinadas. Esta seria a natureza codificadora do Design Gráfico. O projeto UltrAlice pretende questionar a atual e massiva utilização dos dois aspectos, codificador e comunicador, apontando em outras direções nas quais estes mesmos aspectos podem caminhar: codificar e comunicar mensagens desconectadas do circuito mercadológico e de consumo, funcionando com uma linguagem legítima, capaz de promover transformações de idéias e realidades, fluxos e escambos de informação também desconectados do circuito mercadológico.


2. A "Linguagem Design Gráfico" frente às demais linguagens:

Estimular a utilização dos diferencias da linguagem gráfica, enquanto ferramenta capaz de atingir grandes populações, frente à elitização do universo de linguagens distintas, como a literária. O Design Gráfico encontra canais de movimentação nos mais diversos suportes em constante contato com múltiplos grupos de pessoas: da televisão aos outdoors, e esta gama de possibilidades, que mistura o universo visual ao verbal, pode conceber à "Linguagem Design Gráfico" alcances não atingidos por outros tipos de linguagem. A riqueza e incontestável potência da comunicação desenvolvida pelo Design, tão conhecidas no universo comercial, podem ser tão bem exploradas pelo universo das idéias e das informações.


3. A "Linguagem Design Gráfico" em Ação:

Ser o estabelecimento das questões propostas no primeiro e segundo tópicos através de um projeto prático no qual uma mensagem será transmitida. Esta mensagem e todo o processo envolvido na construção do projeto serão a ratificação do questionamento referido no primeiro tópico, assim como das capacidades potentes da linguagem visual referidas no segundo.


3.1. Tema: As Drogas Psicodélicas e o Homem

Na extensa e conturbada história da relação do ser humano com as, hoje, temidas drogas, há um específico grupo de substâncias definidos cientificamente como perturbadores do sistema nervoso central, os conhecidos alucinógenos. Estas drogas, na atualidade, estão estritamente relacionadas a um único e totalizante conceito: a idéia de que são extremamente danosas e capazes de devastar a saúde humana. Os fatos históricos, no entanto, nos mostram que a visão do homem sobre os alucinógenos, em verdade corretamente denominados como psicodélicos, nem sempre correspondeu a uma relação de desafeto. Muito pelo contrário, e isto pode ser verificado até mesmo nos dias atuais, o relacionamento humano com estas substâncias é muito mais complexo do que geralmente se imagina, e há tempos tem sido um dos valores mais controversos dentro da nossa realidade. Nos últimos 50 anos, porém, estas controvérsias aumentaram vertiginosamente, culminando na política mundial que conhecemos como "Guerra às Drogas", inaugurada nos anos 60 pelos Estados Unidos.

A história de utilização destas drogas, no entanto, nos remonta a tempos tão remotos que nos fica impossível definir datas exatas. Os primeiros registros do consumo de psicodélicos foram detectados em vestígios arqueológicos pré-colombianos do séc. XVII a.C., e dão sinais de que este consumo pode perder-se até mesmo além da era pré-histórica. Durante todo o desenvolvimento da espécie até os dias de hoje estas drogas estiveram presentes no cotidiano do homem, e, ao contrário do que poderia se supor, existiam enquanto poderosas ferramentas e não como freios destruidores do crescimento.

Foi no Séc. XX, entretanto, que estas substâncias emergiram de seus universos essenciais - xamanismo, religiões ancestrais, conhecimento popular antigo, para invadir o mundo ocidental e a vida do cidadão comum, habitante das grandes cidades, pertencente à estabelecida realidade do capitalismo. E, mais precisamente em 1943, um histórico evento veio a transformar para sempre a visão e a história sobre os psicodélicos: a descoberta do composto Dietilamida do Ácido Lisérgico, o LSD-25, pelo químico suíço Albert Hoffman, falecido recentemente no ano de 2008, aos 102 anos de idade. Após o advento do LSD, os já pré-existentes psicodélicos, como a mescalina - proveniente do cacto peyote e a psilocibina - oriunda de uma espécie de cogumelo, vieram, de vez, à tona da realidade humana mundial. Os efeitos destas substâncias, até então desconhecidos, revelaram potentes e misteriosos efeitos psíquicos, e estimularam um forte interesse dos cientistas. Os psicodélicos mergulharam definitivamente no mundo dos laboratórios: da química, passando pela neurologia até a psiquiatria e psicologia, onde mais se aconchegaram durante quase 20 anos de pesquisa, incluindo um grande programa de estudos em Harvard, o Harvad Psychedelic Drug Research Program. Durante o fervor científico, estas substâncias revelaram-se capazes de auxiliar imensamente o homem na investigação da mente e percepção, e lançaram uma luz fulgurante sobre o mistério da consciência humana. Os psicodélicos escondiam por trás de suas fórmulas escalafobéticas um universo tão complexo que centenas e centenas de testes, artigos e bibliografias foram lançados sucessivamente, até culminar com o que representou o explosivo escape destas drogas das mãos da ciência.

Durante as décadas de 50 e 60 a CIA desenvolveu um vasto projeto de pesquisa dos psicodélicos nas estratégias de guerra, o MKULTRA. Para a manutenção de uma investigação que buscava de "soros da verdade" a técnicas de neutralização de tropas inimigas, a CIA recrutou uma infinidade de voluntários. As buscas nunca obtiveram respostas positivas para a guerra, mas a partir daí, estas drogas se disseminaram. Ao mesmo tempo em que os jovens voluntários resolveram advogar o uso irrestrito de drogas como o LSD, alegando que uma droga tão poderosa e transformadora não poderia se restringir às mãos do governo, cientistas como Timothy Leary, considerado por muitos o papa do LSD, resolveram romper com o rigor científico, e também advogaram o uso indefinido dos psicodélicos pelo mundo afora. Durante toda a década de 60, o LSD tornou-se uma droga mais popular do que a maconha, e no decorrer deste tempo, milhares e milhares de americanos e britânicos submeteram-se ao uso desta substância sem qualquer tipo de auxílio ou monitoramento científico. O LSD tornou-se o combustível da grande ruptura sócio-cultural que o mundo inteiro assistiu atônito, o Movimento Hippie. A "flor" do movimento certamente já existia, tendo suas raízes na geração beat, mas certamente o LSD foi o pólen que levou massas e massas a se juntarem na contracultura.

O escape dos psicodélicos dos meios científicos e a desmedida utilização inconsciente, no entanto, foram a grande ruína na relação do homem com estas drogas. Em 1967 o LSD foi terminantemente proibido em território americano e posteriormente em todos os países do mundo. As autoridades fundamentaram a proibição baseadas em dados sobre bad-trips (experiências ruins) relatadas por um quarto dos americanos que já haviam utilizado a substância (fora do contexto científico), e nos danos que estas experiências poderiam causar (como o suicídio), se continuassem a se propagar de maneira irrefreada e inconseqüente. Aliaram estes dados ao medo ecatômbico de ver grupos gigantescos de pessoas na busca pela libertação do atual sistema econômico, assim como do conhecido sonho americano: um estilo de vida baseado no consumo sem questionamento e nos milhares e milhares de gadgets domésticos que apareciam irrefreadamente para "facilitar a vida". As autoridades americanas, então, além de proibirem o LSD e outros psicodélicos em território nacional, apoiaram-se também na atitude tacanha de interromper, indefinidamente, todo e qualquer tipo de pesquisa científica sobre estas substâncias, não importando a riqueza dos avanços atingidos até então.

A partir daí, o governo iniciou uma investida ideológica pesada, conhecida como "Guerra às Drogas", que veio a dominar todo o tipo de política pública internacional até os dias de hoje. Milhões foram investidos em propagandas destinadas a construir a mais pavorosa imagem das drogas, e de colocá-las, todas, indistintamente, em um único e hegemônico conceito: o da devastação. À custa de muito marketing governamental as drogas foram sendo, pouco a pouco, satanizadas em todo o globo. Uma visão monolítica, extremamente parcial e hiper-reducionista condenava todas elas, do LSD - um psicodélico, à heroína - um estimulante, a uma única sentença - a da erradicação, independentemente de suas abissais diferenças. Toda a riqueza de uma relação milenar, muito mais antiga do que o último século, e milhares de vezes mais complexa do que um simples problema de política pública, foi ferozmente destruída e reduzida a um monolítico discurso proibicionista que nem mesmo se preocupava e tão pouco hoje se preocupa em investigar aquilo que proíbe. Pelo contrário, a cadavérica política da guerra às drogas presume-se livre de questionamentos e busca apenas, em sua esmagadora maioria, o cumprimento e fortificação de uma soberania violenta, enquanto tem coibido copiosamente a liberdade de opinião.

Hoje os Estados Unidos é o país com o maior número proporcional de consumidores de drogas, principalmente de drogas pesadas, como heroína e cocaína. Nações são movidas pelo narcotráfico, sem falar nos gigantescos déficits para a saúde pública que as atividades ilegais com drogas tem causado para países como o Brasil. O número de jovens que cada vez mais cedo se envolvem com narcóticos vem aumentando nas estatísticas mundiais, e o despreparo da educação, incapacitada para dialogar sobre as drogas na sua verdadeira realidade e complexidade, tem levado grandes populações a utilizar estas substância de forma totalmente inconsciente, ignorante e abusiva. Há um submundo, que preferimos não enxergar, onde este uso inconsciente tem destruído vidas e perspectivas deliberadamente, e ainda assim levantamos a bandeira do proibicionismo totalizante, violento e propagador da mais devastadora falta de informação.

Uma nova perspectiva, no entanto, parece clarear o caminho obscuro e duvidoso que a relação do homem com as drogas, entre elas os psicodélicos, tem traçado nos últimos tempos. As articulações das políticas de prevenção de danos em face à política única do proibicionismo tem surtido efeitos positivos nas legislações de diversos países e também nos dados refletidos na saúde e comportamento. As drogas têm caído, mais freqüentemente, nas discussões e debates, e, após 30 anos de moratória científica, as entidades interessadas na informação sincera e na investigação séria estão finalmente voltando a transformar substâncias como o LSD, a mescalina e a psilocibina em objetos de pesquisa. Os psicodélicos têm retornado, nos últimos 10, 15 anos, ao escopo dos estudos científicos, e retomado as perspectivas de se aventurar nas ainda sombrias questões sobre a percepção humana, e quem sabe iluminar, com intensidade e honestidade, as sombras densas do mistério da consciência.


3.2. Mensagem

O projeto UltrAlice pretende veicular um questionamento crítico sobre o atual panorama político, cultural e social envolvendo os psicodélicos, utilizando como fundamento uma vasta e honesta pesquisa sobre a história e os vários aspectos da relação do ser humano com estas drogas. As substâncias em questão descortinam um universo muito mais complexo e intrincado, através dos quais se cruzam a história, filosofia, ciência, religião, política, cultura e arte, do que procura demonstrar o atual tabu a que estas drogas foram reduzidas. Ao veicular a mensagem, o projeto pretende suscitar discussões, debates e questionamentos sobre uma realidade pouco falada nos dias atuais, ou falada de modo extremamente superficial, e, claro, não se alicerça em qualquer discurso que possa ser considerado como apológico. O UltrAlice se apóia no desejo de que este tema seja tratado de maneira sincera, em contraposição ao modo absolutista e redutor com que tem sido tratado nos últimos tempos.

Um comentário:

  1. Mto bom!
    Super digna a proposta!!! E vc escreve bem.

    Uma coisa q me ocorreu enquanto lia esse post: como vc bem fala, houve toda uma política repressora em prol de manter o consumista AMERICAN WAY OF LIFE intacto, ok. O q pensei foi: a determinação consumista vai ainda além: ao se tirar as drogas do circuito de consumo "oficial", elas não são, de maneira alguma!, retiradas do circuito consumista, mto pelo contrário, cria-se um outro circuito (ilegal) que talvez seja mto mais lucrativo! E mais lucrativo justamente por tornar o acesso as drogas mais difícil, as deixando c "sabor de fetiche à lá maçã proibida". No fim das contas o lucro é ainda maior... Além de distrair as massas c um inimigo imaginário (a vilanização das drogas). Enfim, acho q o papel do consumo é gigantesco nisso tudo!

    É isso! Mais uma opnião do q uma sugestão!
    Depois leio mais
    U go boy! rs

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